Você tem um negócio com picos de movimento e precisa de flexibilidade para contratar? Ou é um profissional em busca de autonomia na agenda? Entender o trabalho intermitente como funciona pode ser a chave. Criado pela Reforma Trabalhista, esse modelo de contrato permite a prestação de serviços de forma não contínua, com períodos de atividade e inatividade.
Este guia completo irá desmistificar essa modalidade, explicando desde a formalização do contrato até o cálculo dos direitos, para que empresas e trabalhadores possam utilizar essa ferramenta de forma segura e estratégica, evitando problemas legais.
Acesso Rápido
- 1 O que é o trabalho intermitente e como ele funciona na prática
- 2 Os pilares legais: como o contrato de trabalho intermitente funciona
- 3 Entendendo o fluxo de convocação e aceite
- 4 Calculando a remuneração e os direitos do trabalhador
- 5 Vantagens e desvantagens: a balança do trabalho intermitente
- 6 Desafios e disputas judiciais sobre trabalho intermitente
- 7 Perguntas Frequentes sobre Trabalho Intermitente Como Funciona
O que é o trabalho intermitente e como ele funciona na prática

Pense em um buffet de eventos. A demanda por garçons, cozinheiros e auxiliares explode nos fins de semana, mas é quase nula durante a semana. O trabalho intermitente permite que o buffet convoque sua equipe apenas quando há um evento agendado, pagando exatamente pelas horas trabalhadas.
Essa modalidade, regulamentada pela Lei 13.467/2017, formaliza relações de trabalho que não se encaixam na jornada fixa da CLT. É um meio-termo: o profissional tem carteira assinada e direitos garantidos, mas sem a obrigatoriedade de cumprir um horário contínuo.
A característica central do trabalho intermitente é a não continuidade. O trabalhador pode ter múltiplos contratos e aceitar as convocações que desejar, sem que uma recusa seja considerada insubordinação.
Desde sua criação, o modelo cresceu significativamente. Dados do Caged mostram que as admissões nesse regime mais que dobraram entre 2018 e 2019, saltando de 0,5% para 1% do total de contratações. Os setores que mais utilizam são serviços, comércio, construção civil e alimentação. Para mais detalhes, consulte o relatório da ANR Brasil.
Em resumo, como o trabalho intermitente funciona para cada lado:
- Para as empresas: Reduz custos com mão de obra ociosa, alinhando despesas à demanda real.
- Para os trabalhadores: Oferece flexibilidade de agenda, possibilidade de múltiplos empregos e a segurança dos direitos trabalhistas.
Comparativo: Intermitente vs. CLT Tradicional vs. Autônomo
Para entender melhor o conceito, a comparação é a melhor ferramenta. O trabalho intermitente ocupa um espaço único entre o vínculo CLT tradicional e a prestação de serviços como autônomo (PJ).
A tabela abaixo resume as principais diferenças.
| Característica | Trabalho Intermitente | CLT Tradicional | Autônomo (PJ) |
|---|---|---|---|
| Vínculo Empregatício | Sim, com carteira assinada | Sim, com carteira assinada | Não, relação comercial |
| Jornada de Trabalho | Não contínua, por convocação | Fixa e pré-definida | Flexível, definida pelo prestador |
| Subordinação | Sim, durante o período de serviço | Sim, de forma contínua | Não, focado na entrega do serviço |
| Remuneração | Por hora trabalhada, paga ao final do período | Salário mensal fixo | Por projeto ou serviço prestado |
| Direitos (Férias, 13º) | Sim, proporcionais a cada período | Sim, garantidos anualmente | Não aplicável, negociação contratual |
| Flexibilidade | Alta para ambos os lados | Baixa para ambos os lados | Alta para o prestador de serviços |
Cada modelo tem suas particularidades. A escolha ideal depende das necessidades da empresa e do perfil do profissional. Compreender como funciona o trabalho intermitente é o primeiro passo para aplicá-lo corretamente e evitar problemas com a lei.
Os pilares legais: como o contrato de trabalho intermitente funciona
A flexibilidade do trabalho intermitente só é segura porque se apoia em uma estrutura legal bem definida. Para que o modelo funcione sem riscos, a lei é clara: o acordo precisa ser formalizado. Um combinado verbal não tem validade; é necessário um vínculo protegido por escrito.
O pilar mais importante é a exigência de um contrato por escrito. Este documento oficializa a relação e deve ser registrado na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), física ou digital. O registro é o que garante o reconhecimento legal do vínculo e protege ambos os lados.
Itens indispensáveis no contrato de trabalho intermitente
Para que o contrato seja válido, a legislação exige que algumas informações cruciais estejam presentes. A ausência de qualquer uma delas pode invalidar o acordo ou gerar problemas jurídicos.
Utilize este checklist para garantir que seu contrato está em conformidade:
- Identificação completa: Nome, CPF e endereço do empregado e do empregador.
- Assinatura na CTPS: A anotação do contrato intermitente na carteira de trabalho é obrigatória.
- Valor da hora de trabalho: Esta cláusula é fundamental. O valor não pode ser inferior ao da hora do salário mínimo nem ao pago a outros funcionários na mesma função.
- Local e prazo para pagamento: O contrato deve especificar onde e quando o pagamento será realizado. Por lei, a remuneração é devida ao final de cada período de serviço.
Um contrato bem elaborado é a melhor ferramenta de prevenção. Ele alinha expectativas e assegura que direitos e deveres sejam claros para todos desde o início.
A importância da formalização para a segurança jurídica
Formalizar o contrato intermitente é muito mais que burocracia. É a garantia de que, durante os períodos de atividade, o profissional terá acesso proporcional a todos os seus direitos, como férias, 13º salário e FGTS. Para a empresa, significa operar dentro da lei, reduzindo drasticamente o risco de processos trabalhistas.
Ignorar essas regras pode transformar a agilidade do modelo em um grande problema. Um contrato mal redigido abre brechas para questionamentos na Justiça, podendo levar à descaracterização do vínculo e à aplicação de multas. Investir tempo na elaboração de um contrato sólido é fundamental para que o trabalho intermitente funcione de forma vantajosa para todos.
Entendendo o fluxo de convocação e aceite
O processo de convocação é o coração do trabalho intermitente. É nesse fluxo que a necessidade da empresa encontra a disponibilidade do profissional. Compreender cada passo é o segredo para que o trabalho intermitente funcione sem problemas jurídicos.
O processo começa com o empregador. A lei determina que a convocação seja feita com, no mínimo, três dias corridos de antecedência. Esse prazo permite que o trabalhador se organize e decida se aceita a oferta.
Como a convocação deve ser feita
A legislação permite que a comunicação seja feita por qualquer meio eficaz, como WhatsApp, e-mail ou ligação telefônica. O mais importante não é o canal, mas sim o registro.
É crucial que o empregador mantenha um histórico de todas as convocações, aceitas ou recusadas. Uma captura de tela da conversa ou um e-mail arquivado servem como prova e protegem a empresa contra futuras alegações.
O infográfico abaixo ilustra os passos essenciais para a formalização do contrato, que é a base para convocações legais.

A imagem reforça que a base para uma convocação válida é um contrato bem estruturado, assinado e registrado na CTPS, com o valor da hora de trabalho claramente definido.
A resposta do trabalhador e o período de inatividade
Após receber a convocação, o trabalhador tem um dia útil para responder. O silêncio é interpretado como recusa. Este é um dos pontos mais importantes sobre como funciona o trabalho intermitente: a liberdade de escolha.
A recusa de uma oferta não é considerada indisciplina nem quebra de contrato. O trabalhador tem total autonomia para aceitar apenas os chamados que se encaixam em sua agenda, sem sofrer penalidades.
Essa flexibilidade define a natureza não contínua do vínculo.
Quando não é convocado ou recusa uma oferta, o profissional entra no chamado período de inatividade. Durante esse tempo, o contrato de trabalho fica "pausado", sem prestação de serviço e, consequentemente, sem salário. Nesse intervalo, o trabalhador pode prestar serviços para outras empresas, reforçando sua autonomia e a possibilidade de diversificar a renda.
Calculando a remuneração e os direitos do trabalhador

Uma das maiores dúvidas sobre como o trabalho intermitente funciona envolve o pagamento. A regra é simples: a remuneração deve ser paga imediatamente ao final de cada período de serviço, seja ele de um dia ou uma semana.
O pagamento inclui não apenas as horas trabalhadas, mas um pacote completo de direitos, calculados proporcionalmente ao período de atividade.
Junto com o valor das horas, o pagamento deve incluir:
- Férias proporcionais + 1/3;
- 13º salário proporcional;
- Descanso Semanal Remunerado (DSR);
- Adicionais aplicáveis (horas extras, adicional noturno etc.).
Essa estrutura garante que o trabalhador tenha acesso aos mesmos direitos básicos de um funcionário CLT, adaptados à natureza flexível do contrato.
Exemplo prático de como funciona o cálculo
Vamos a um exemplo prático. Um profissional trabalhou por 15 dias no mês, com um valor-hora de R$ 10,00, cumprindo 8 horas diárias.
A tabela abaixo detalha o cálculo:
| Verba | Base de Cálculo | Valor a Receber |
|---|---|---|
| Salário Base | 120 horas (15 dias x 8 horas) x R$ 10,00 | R$ 1.200,00 |
| Férias Proporcionais + 1/3 | (R$ 1.200,00 / 12) + 1/3 deste valor | R$ 133,33 |
| 13º Salário Proporcional | R$ 1.200,00 / 12 | R$ 100,00 |
| DSR | Valor das horas dos domingos/feriados | Valor variável |
| Total Bruto (sem DSR) | Soma das verbas acima | R$ 1.433,33 |
Ao final do período, o empregador deve fornecer um recibo detalhando cada valor pago.
O pagamento imediato e proporcional é um pilar do contrato intermitente, oferecendo liquidez e segurança financeira ao trabalhador.
Apesar dos direitos assegurados, a realidade da remuneração pode ser desafiadora. Em 2023, o Brasil registrou 417 mil vínculos intermitentes, mas 76% desses contratos pagaram menos que o salário mínimo. A renda média mensal foi de apenas R$ 762. Para entender melhor, vale a pena explorar os dados sobre a renda no trabalho intermitente.
FGTS e contribuição previdenciária
Além do pagamento direto, o empregador deve recolher o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a contribuição previdenciária (INSS). Ambos são calculados sobre a remuneração total do período e depositados nas contas do profissional. É fundamental que o trabalhador acompanhe esses depósitos, pois eles garantem benefícios futuros como aposentadoria e saque do FGTS.
Vantagens e desvantagens: a balança do trabalho intermitente
O contrato intermitente possui dois lados. Embora a flexibilidade seja o grande atrativo, é crucial analisar os prós e contras para empresas e trabalhadores antes de adotá-lo.
Para quem contrata, a principal vantagem é a otimização de custos, alinhando as despesas com pessoal diretamente à receita. Isso elimina o custo de manter funcionários ociosos em períodos de baixa demanda e cria uma equipe mais ágil e adaptável.
E para o trabalhador, vale a pena?
Para o profissional, a liberdade de agenda é o maior benefício. A possibilidade de aceitar ou recusar convocações permite conciliar o trabalho com estudos, projetos pessoais ou outros empregos. Tudo isso com a segurança da carteira assinada e direitos proporcionais.
No entanto, essa liberdade pode gerar instabilidade financeira. Sem a garantia de convocações, o planejamento financeiro se torna um desafio. A autonomia pode se transformar em insegurança.
O grande dilema do trabalho intermitente é equilibrar a liberdade de escolher quando trabalhar com a necessidade de uma renda previsível.
Resumo dos prós e contras
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Para a Empresa:
- Vantagem: Redução de custos em períodos de baixa e agilidade para escalar equipes.
- Desvantagem: Dificuldade em construir uma equipe engajada e a necessidade de um planejamento de convocação rigoroso.
-
Para o Trabalhador:
- Vantagem: Autonomia sobre a agenda, possibilidade de múltiplos empregos formais e acesso a direitos trabalhistas.
- Desvantagem: Incerteza de renda, dificultando o planejamento financeiro, e o risco de longos períodos sem convocação.
Entender como funciona o trabalho intermitente passa por essa análise sincera. O modelo pode ser uma solução excelente para certos setores, mas exige cuidado para não precarizar a relação de trabalho.
Desafios e disputas judiciais sobre trabalho intermitente
A aplicação do trabalho intermitente pode ser um campo minado de conflitos que frequentemente terminam na Justiça do Trabalho. Embora o modelo seja legal, seu uso inadequado pode cruzar a linha da precarização de direitos.
Um dos principais pontos de atrito é o uso do contrato intermitente para mascarar um vínculo de trabalho permanente. Quando uma empresa contrata alguém nesse regime para uma função que exige presença contínua, com o objetivo de reduzir custos, isso é caracterizado como fraude trabalhista.
Principais motivos de processos judiciais
A interpretação da lei gera debates, e os principais motivos que levam a disputas judiciais são:
- Descaracterização do Vínculo: Ocorre quando a Justiça entende que a necessidade de trabalho era contínua. O contrato intermitente é convertido para o regime CLT padrão, obrigando a empresa a pagar todas as verbas retroativas.
- Erro no cálculo das verbas: Falhas no pagamento proporcional de férias, 13º salário e outros adicionais são uma fonte comum de reclamações.
- Falta de convocação proposital: Se um trabalhador fica muito tempo sem ser chamado e há indícios de que foi uma tática para forçar um pedido de demissão, a situação pode ser questionada judicialmente.
A prevenção é a melhor forma de evitar um passivo trabalhista. Manter um registro detalhado de cada convocação, aceite e pagamento é a prova de que a relação foi conduzida corretamente.
O aumento da judicialização serve como alerta. As ações judiciais sobre trabalho intermitente aumentaram 116% entre 2020 e 2022. Em 2023, foram registrados mais de 2.885 novos processos até outubro. Para se aprofundar, leia mais sobre o aumento das ações judiciais no site da ABET. Esses números mostram a importância de entender as nuances de como funciona o trabalho intermitente para evitar problemas caros e desgastantes.
Perguntas Frequentes sobre Trabalho Intermitente Como Funciona
Para finalizar, vamos responder às dúvidas mais comuns sobre o trabalho intermitente de forma clara e direta.
O trabalhador intermitente tem direito a seguro-desemprego?
Não. A legislação atual não concede seguro-desemprego ao final de um contrato intermitente. O entendimento é que a natureza não contínua do trabalho permite que o profissional tenha outras fontes de renda simultaneamente.
Como funcionam as férias no contrato intermitente?
A cada 12 meses de contrato, o trabalhador adquire o direito a 30 dias de férias. Durante este período, ele não pode ser convocado pela empresa. O pagamento das férias (valor proporcional + 1/3) é adiantado ao final de cada período trabalhado, junto com as demais verbas.
Uma empresa pode ter apenas funcionários intermitentes?
A lei não impõe um limite, mas o uso exclusivo desse modelo pode ser arriscado. Se a atividade da empresa é contínua, contratar todos como intermitentes pode ser considerado fraude pela Justiça do Trabalho, resultando em multas e na conversão dos contratos para o regime CLT padrão.
O que acontece se o empregador não convocar o trabalhador?
Nada. Não há obrigação de convocação. Se o trabalhador não for chamado, o contrato permanece ativo, mas em estado de inatividade. A empresa não tem obrigações financeiras nesse período. O contrato só é encerrado por rescisão ou se passar um ano inteiro sem nenhuma convocação.
Navegar pelas regras do direito trabalhista pode ser complexo, e um passo em falso custa caro. Se você precisa de uma orientação clara sobre contratos intermitentes ou qualquer outro desafio jurídico na sua empresa, a equipe do Pedro Miguel Law está pronta para criar soluções seguras e sob medida para o seu negócio. Entre em contato conosco e proteja seus interesses.
