A demissão por justa causa é a penalidade mais severa que uma empresa pode aplicar a um funcionário. Trata-se do rompimento do contrato de trabalho motivado por uma falta grave, que quebra de forma irremediável a confiança entre as partes. Entender como funciona a demissão por justa causa é fundamental tanto para empregadores, que precisam seguir a lei à risca, quanto para trabalhadores, que necessitam conhecer seus direitos e deveres para não serem injustiçados.

O que é e como funciona a demissão por justa causa

Funcionário sendo notificado de uma demissão por justa causa em uma sala de reunião.
Como Funciona a Demissão por Justa Causa: Guia Completo 2024 4

Na prática, a demissão por justa causa é a rescisão do contrato de trabalho por iniciativa do empregador devido a um comportamento inadequado e grave do empregado. A principal diferença em relação a outras formas de desligamento é o impacto financeiro: o trabalhador perde o direito a diversas verbas rescisórias importantes.

Contudo, essa medida não pode ser aplicada de forma arbitrária. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 482, estabelece uma lista taxativa das condutas que justificam essa punição. O objetivo da lei é proteger a empresa de atos prejudiciais e, ao mesmo tempo, resguardar o empregado de decisões injustas.

Para que a demissão por justa causa seja válida, três critérios essenciais devem ser seguidos:

  • Gravidade da falta: O ato cometido deve ser sério o suficiente para destruir a confiança que sustenta a relação de trabalho.
  • Imediatidade: A punição deve ser aplicada logo após a empresa tomar conhecimento do fato. A demora pode ser interpretada pela Justiça como um perdão tácito.
  • Proporcionalidade: A penalidade (a demissão) deve ser proporcional à falta cometida.

Essa não é uma situação rara. Um levantamento completo publicado na CNN Brasil revelou que o Brasil atingiu um recorde na década, com 39.511 casos em um único mês no início do ano. Isso representou 2,09% de todos os desligamentos formais no período.

Ponto Chave: A demissão por justa causa não é apenas uma decisão administrativa, mas um processo legal complexo. Exige provas concretas e o cumprimento rigoroso desses critérios. Se a empresa não conseguir comprovar a falta grave, a demissão pode ser revertida judicialmente.

Compreender como funciona a demissão por justa causa é crucial para garantir que os direitos e deveres de ambas as partes sejam respeitados, evitando ilegalidades e prejuízos.

Quais são os motivos para demissão por justa causa?

A demissão por justa causa não pode ser uma decisão impulsiva do empregador. Pelo contrário, é uma medida extrema, reservada para situações em que a confiança na relação de trabalho foi quebrada de forma grave e definitiva.

A lei é muito clara sobre isso. O artigo 482 da CLT funciona como um guia, listando as faltas graves que justificam essa penalidade. Conhecer esses motivos é o primeiro passo para entender se a demissão foi aplicada corretamente.

Vamos analisar as causas mais comuns na prática.

Atos de improbidade e mau procedimento

A improbidade é um dos motivos mais sérios, pois envolve desonestidade. Refere-se a qualquer ato de má-fé, fraude ou dolo que vise uma vantagem para o funcionário em prejuízo da empresa.

Exemplos incluem furto de materiais, desvio de dinheiro, apresentação de atestado médico falso ou adulteração de documentos. São ações que destroem a confiança instantaneamente.

Já o mau procedimento é um conceito mais amplo, cobrindo comportamentos inadequados que prejudicam o ambiente de trabalho, mesmo sem envolver ganho ilícito. Casos como bullying, assédio, uso de linguagem ofensiva ou danificar equipamentos da empresa por vandalismo se enquadram aqui.

Insubordinação e indisciplina

Embora pareçam sinônimos, para a lei trabalhista, esses termos têm significados distintos.

  • Indisciplina: Ocorre quando o funcionário ignora uma regra geral da empresa, válida para todos. Por exemplo, usar redes sociais para fins pessoais durante o expediente, contrariando uma política interna clara.

  • Insubordinação: É mais direta. Acontece quando o empregado se recusa a cumprir uma ordem específica e legal de um superior. Imagine um gerente que pede a finalização de um relatório urgente e recebe um "não vou fazer" como resposta.

Para simplificar: indisciplina é desrespeitar uma regra da empresa. Insubordinação é desafiar uma ordem direta do chefe.

Outras faltas graves previstas na CLT

A lista do artigo 482 da CLT é extensa e inclui outras condutas que podem levar à justa causa.

A violação de segredo da empresa, por exemplo, é gravíssima. Vazar informações confidenciais para um concorrente é uma quebra de lealdade que justifica a demissão imediata.

A embriaguez habitual ou em serviço também está na lista. A primeira refere-se ao alcoolismo crônico que afeta o desempenho, enquanto a segunda é a apresentação ao trabalho sob efeito de álcool ou outras substâncias.

Por fim, ofensas físicas ou verbais no ambiente de trabalho contra colegas, superiores ou clientes (exceto em legítima defesa) tornam a convivência insustentável e são motivo para dispensa por justa causa.

Principais motivos para justa causa e exemplos práticos

A tabela abaixo resume algumas das faltas graves mais recorrentes detalhadas no Art. 482 da CLT.

Motivo (Art. 482 da CLT) Descrição resumida Exemplo prático
Ato de Improbidade Ação desonesta visando vantagem indevida. Falsificar um atestado médico para justificar uma falta.
Incontinência de Conduta Comportamento imoral ou desrespeitoso. Praticar assédio sexual ou moral contra um colega.
Insubordinação Desobediência a uma ordem direta de um superior. Recusar-se a executar uma tarefa específica solicitada pelo gestor.
Abandono de Emprego Ausência injustificada por mais de 30 dias consecutivos. Não comparecer ao trabalho por um mês sem dar satisfação.
Violação de Segredo Divulgar informações confidenciais da empresa. Vazar a estratégia de lançamento de um novo produto.

Cada caso é único e deve ser analisado com cuidado, considerando as provas e a gravidade da falta antes de qualquer medida ser tomada.

Como funciona o processo de demissão por justa causa na prática

Demitir um funcionário por justa causa exige um processo rigoroso e bem documentado. Para que a demissão seja legalmente válida, a empresa deve seguir um roteiro jurídico definido, garantindo que a punição seja justa e, acima de tudo, comprovável.

Qualquer falha nesse processo pode levar à reversão da demissão na Justiça do Trabalho. Portanto, entender como funciona a demissão por justa causa na prática é essencial para o trabalhador saber se seus direitos foram respeitados.

A necessidade de provas concretas

O pilar de toda justa causa é a comprovação da falta grave. A empresa não pode demitir com base em suposições. O ônus da prova é dela, o que significa que é sua responsabilidade apresentar evidências claras do ato cometido pelo funcionário.

Sem provas sólidas, a justa causa não se sustenta. Exemplos de evidências incluem:

  • Documentos: E-mails, mensagens corporativas, relatórios de auditoria e registros de ponto.
  • Registros visuais: Imagens de câmeras de segurança (desde que o colaborador saiba que está sendo filmado).
  • Testemunhas: Relatos de colegas ou gestores que presenciaram a falta grave, devidamente documentados.

É fundamental que essas provas sejam obtidas de forma lícita, sem invadir a privacidade do empregado.

Infográfico sobre como funciona demissão por justa causa
Como Funciona a Demissão por Justa Causa: Guia Completo 2024 5

Atos como indisciplina, improbidade e insubordinação demandam provas robustas para serem validados judicialmente.

O princípio da imediatidade na punição

O princípio da imediatidade exige que a punição ocorra logo após a empresa tomar conhecimento da falta grave.

A demora para agir pode ser interpretada pela Justiça como um "perdão tácito". Se um chefe descobre um ato grave, mas só aplica a justa causa semanas depois, um juiz pode entender que a falta não era tão séria.

Atenção: Imediatidade não significa pressa. A empresa pode e deve conduzir uma investigação interna para apurar os fatos e reunir provas. O que não pode é demorar para agir após a conclusão da apuração.

Formalização e gradação da pena

A comunicação da demissão deve ser formal, clara e discreta. O ideal é que seja feita por escrito, em um documento que descreva o motivo e cite o artigo correspondente da CLT (art. 482), preferencialmente na presença de duas testemunhas.

Além disso, a empresa deve respeitar a gradação da pena para faltas mais leves e recorrentes, como atrasos. A sequência costuma ser:

  1. Advertência verbal
  2. Advertência por escrito
  3. Suspensão
  4. Demissão por justa causa

Claro, essa lógica não se aplica a faltas gravíssimas como roubo ou agressão física, que justificam a demissão imediata.

Direitos perdidos e garantidos na justa causa

O impacto financeiro é uma das piores consequências de como funciona a demissão por justa causa. Essa modalidade de desligamento elimina o direito a diversas verbas rescisórias.

Uma calculadora e moedas sobre uma mesa, simbolizando os cálculos rescisórios.
Como Funciona a Demissão por Justa Causa: Guia Completo 2024 6

É crucial entender que, ao ser demitido por uma falta grave, o trabalhador abre mão de uma parcela significativa de seus direitos.

Quais direitos o trabalhador perde

Os principais direitos perdidos na justa causa são:

  • Aviso prévio: O contrato é encerrado imediatamente, sem direito ao aviso prévio trabalhado ou indenizado.
  • Férias proporcionais + 1/3: O valor referente ao período de férias em curso é perdido.
  • 13º salário proporcional: O valor correspondente aos meses trabalhados no ano da demissão não é pago.
  • Saque do FGTS e multa de 40%: O saldo do Fundo de Garantia fica retido, e a empresa não paga a multa de 40%.
  • Seguro-desemprego: O trabalhador não tem direito a solicitar o benefício.

O que ainda é garantido ao trabalhador

Apesar das perdas, a demissão por justa causa não elimina todos os direitos. A legislação protege o pagamento de valores essenciais.

Mesmo nesta situação, o trabalhador tem direito a receber:

  • Saldo de salário: Pagamento pelos dias efetivamente trabalhados no mês da rescisão.
  • Férias vencidas + 1/3: Se o trabalhador já tinha um período de férias adquirido, mas não gozado, esse valor deve ser pago.

É fundamental entender a diferença: direitos adquiridos (férias vencidas) são pagos. Expectativas de direito (proporcionais) são perdidas.

Num mercado que registra milhões de desligamentos, como mostra a dinâmica dos desligamentos no Brasil, conhecer as regras de cada tipo de rescisão é vital.

É possível reverter uma demissão por justa causa?

Receber a notícia de uma demissão por justa causa não é, necessariamente, o fim da linha. O trabalhador que se sente injustiçado pode e deve buscar seus direitos na Justiça do Trabalho.

Quando a empresa demite por justa causa, ela assume a responsabilidade de provar que a falta grave realmente aconteceu.

Entrando com uma reclamação trabalhista

O primeiro passo para questionar a decisão é entrar com uma reclamação trabalhista. Um juiz analisará o caso, as acusações e as provas apresentadas por ambas as partes.

Argumentos comuns para a reversão incluem a falta de provas concretas por parte da empresa ou a desproporcionalidade da punição.

Quando um juiz reverte a demissão, ele a transforma em uma dispensa sem justa causa. Isso obriga a empresa a pagar todas as verbas rescisórias retidas: aviso prévio, 13º proporcional, férias proporcionais com 1/3, e a liberar o FGTS com a multa de 40%.

Como a reversão funciona na prática

O sucesso da contestação depende de uma análise criteriosa dos fatos. Os principais cenários que levam à reversão são:

  • Falta de provas: A empresa alega, mas não consegue comprovar a falta grave.
  • Punição desproporcional: A falta ocorreu, mas a punição foi excessivamente severa.
  • Falhas no processo: A empresa cometeu erros, como demorar para punir (quebra da imediatidade) ou não aplicar punições graduais quando necessário.

Dados de mercado indicam que as empresas são cautelosas ao aplicar a justa causa. Em um estado como o Rio Grande do Sul, apenas 1,6% dos desligamentos formais foram por esse motivo, conforme você pode ler mais sobre os tipos de desligamento no mercado de trabalho.

Se a demissão foi conduzida de forma humilhante, ainda é possível pleitear uma indenização por danos morais.

Perguntas frequentes sobre demissão por justa causa

A demissão por justa causa sempre gera dúvidas. Para esclarecer os pontos mais comuns, respondemos às perguntas mais frequentes sobre o tema.

Comportamento no WhatsApp pode gerar justa causa?

Sim, pode. Para a Justiça do Trabalho, grupos de trabalho no WhatsApp são uma extensão do ambiente profissional.

Atitudes como as listadas abaixo podem justificar uma demissão por justa causa:

  • Ofender colegas, líderes ou a empresa.
  • Vazar informações confidenciais.
  • Desrespeitar ordens ou recusar-se a cumpri-las (insubordinação).
  • Compartilhar conteúdo impróprio ou ilegal.

A empresa precisa ter provas, como prints das conversas, para validar a demissão.

O que acontece se eu não assinar a demissão?

Nada muda no processo. A assinatura serve apenas para comprovar que você foi comunicado.

Se você se recusar a assinar, a empresa chamará duas testemunhas para assinar o documento, atestando que você foi informado da decisão, mas se recusou a dar o ciente. Sua recusa não anula nem atrasa o desligamento.

Quantas advertências a empresa precisa dar antes da justa causa?

Não existe um número fixo. A necessidade de advertências prévias depende da gravidade da falta.

Para atos gravíssimos como roubo, agressão ou vazamento de segredos industriais, a demissão por justa causa pode ser imediata, pois a confiança é quebrada instantaneamente.

Para faltas mais leves e recorrentes, como atrasos, a lei e o bom senso exigem uma gradação de punições (advertência, suspensão e, por fim, demissão), demonstrando que o empregador tentou corrigir o comportamento antes da medida drástica.


A demissão por justa causa é um dos temas mais complexos do direito do trabalho. Se você está passando por essa situação ou precisa de orientação para aplicar o procedimento corretamente, não hesite em buscar suporte jurídico especializado. A equipe do Pedro Miguel Law está pronta para analisar seu caso e proteger seus direitos.

Entre em contato conosco e agende uma consulta

Compartilhar

Leave A Reply

Exit mobile version
1